Uma palavra amiga

Abordando a importância da alfabetização emocional

O educador agostiniano recoleto Nicolas Caballero oferece uma perspectiva atual sobre a importância da alfabetização emocional no contexto educacional.

Mais do que nunca, a alfabetização emocional é necessária, para que os alunos possam desenvolver todas as dimensões de sua personalidade, especialmente conhecimentos e relações sociais. Silva e Leal (2017) lembram os aportes de Alzina, Gonzálos e Navarro (2015), que orientam sobre a importância da base emocional, das emoções positivas e da interação social no aprendizado, e como o desenvolvimento emocional e cognitivo devem trabalhar em conjunto.

Educar a pessoa integralmente significa atender às suas dimensões mentais, corporais e espirituais. Como Branco (2017, 2004, p.17) aponta “Já não se trata de formar a Pessoa (singular ou plural), nem construí-la numa perspectiva curricular e metodológica. O desafio reside no novo paradigma da auto-construção: O Homem como emissor-receptor de interações psicocognitivas e proprioceptivas intrínsecas e extrínsecas, capacitado para construir o seu Projeto de Si”. Neste sentido, Amaral (2014) destaca o papel da escola. É o lugar onde o ensino e a aprendizagem emocional devem funcionar de maneira complementar, enfrentando o desenvolvimento cognitivo, emocional e social dos alunos. Na escola, as crianças entram em um amplo universo social, onde se comparam com os outros e exploram suas próprias emoções e as dos outros.

A importância da interação entre pares é crucial. Também se destaca a relação entre competências emocionais, adaptação na escola e sucesso escolar. “É importante motivar e despertar nas crianças emoções que promovam a vontade de aprender, principalmente nos primeiros anos de vida, período em que as emoções são mais claras e perceptíveis nas relações interpessoais” (AMARAL, 2014, p. 38). Essa dimensão emocional exige que a escola não apenas treine os alunos em conhecimento, mas também os alfabetize emocionalmente. “Ser emocionalmente alfabetizado é tão importante na aprendizagem quanto a matemática e a leitura” (GOLEMAN, 2001, p. 276). Nem sempre os mais inteligentes obtêm melhores resultados. A escola é responsável por dar às crianças as lições fundamentais para a vida, apostando nessa alfabetização emocional dentro e fora das aulas, na educação regular, e apenas para os alunos que estão atrasados nos estudos e que “estão ficando para trás” ou para crianças “perturbadas” (GOLEMAN, 2001).
Os avanços da neurociência, juntamente com as contribuições da psicologia e da pedagogia, testemunham a íntima relação entre emoção e cognição. “Tanto nossas emoções podem afetar nossas faculdades intelectuais e nossas funções cognitivas, quanto elas podem melhorar nossa capacidade de aprendizado e torna-lo mais eficaz e mais agradável” (CHABOT e CHABOT, 2005, p. 131). Neste aspecto, Fonseca (2016) destaca essa relação íntima de emoções com funções cognitivas de atenção, memória e organização do conhecimento:

A aprendizagem significativa e motivadora é o resultado da interação entre a emoção e a cognição, ambas estão tão conectadas a um nível neurofuncional tão básico, que se uma não funcionar a outra é afetada consideravelmente. As emoções afetam todas as aprendizagens, quanto mais envolvidas forem com elas, mais mobilizadas são as funções cognitivas da atenção, da percepção e da memória, e mais bem geridas e fortes serão as funções executivas de planificação, priorização, monitorização e verificação das respostas (FONSECA, 2016, p. 371).

O mesmo autor afirma que as experiências de aprendizagem dos alunos só serão significativas se estiverem envolvidas em emoções, pois a sua integração efetiva e eficiente só se opera neurofuncionalmente quando a emoção e a cognição estão em perfeita sintonia (FONSECA, 2016). O papel da afetividade é de adaptação ao outro, presta atenção às necessidades dos outros, oferece bem-estar nos relacionamentos, promove a empatia e a harmonia nos grupos. Incentiva ou enfrenta novas situações nas quais a pessoa cresce (OLIVA, 2016). É importante que seja nos primeiros momentos de vida, pois “a incapacidade de construir relações emocionais profundas traz consequências nos relacionamentos futuros.” (OLIVA, 2016, p. 85). “No desenvolvimento inicial, as emoções têm uma base filogenética, mas a regulação do afeto depende de um aprendizado no qual os cuidadores têm papel fundamental.” (OLIVA, 2016, p. 84-85). Afirmamos com Fonseca (2016, p. 376) que “processar informação emocional e social torna-se, assim, fundamental para criar um clima propício para que a aprendizagem ocorra com sucesso”.

Pesquisas mostram a falta de relação entre o sucesso escolar e o sucesso profissional. Os melhores resultados escolares nem sempre levam ao sucesso profissional, pois este requer outras habilidades, fundamentalmente emocionais. Alguns autores, seguindo Goleman (1997), indicam que 80% do sucesso profissional corresponde a fatores emocionais e 20% a fatores intelectuais. Outros, seguindo Strickland (2000), indicam que “as competências emocionais são duas vezes mais importantes que as competências cognitivas e técnicas reunidas para explicar o bom êxito em qualquer campo profissional” (CHABOT e CHABOT, 2005, p. 30).

É paradoxal que, dada a importância das emoções na vida das pessoas, ela não tenha recebido a devida atenção no mundo educacional. Vários estudos demonstram a união íntima entre emoções, desenvolvimento cognitivo e relações sociais. A neurociência e as ciências pedagógicas ainda têm muito a contribuir nesse assunto sobre a influência das emoções no processo de ensino.

A escola deve fazer uma opção pela educação emocional. A educação emocional não pode ser deixada à iniciativa de professores isolados ou somente para algumas disciplinas, mas deve fazer parte da grade curricular, envolvendo todos os atores educacionais. Ainda há muito a ser feito no treinamento emocional dos professores e no desenvolvimento de planos e programas de educação emocional. O caminho a seguir é longo, mas também emocionante.

Nicolás Caballero Peralta OAR